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quinta-feira, 7 de junho de 2012
Matas Ciliares, artigo de Roberto Naime
Curso d’água sem mata ciliar preservada e com muitas gramíneas invasoras. Foto do Projeto de Recuperação de Matas Ciliares (PRMC) da Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo
Cílios são a denominação que atribuímos aos fios de cabelo existentes sobre nossos olhos e que tem importantíssima função de proteger nosso aparelho de visão. No meio científico existem inúmeras definições sobre as matas ciliares e suas funções, mas inegavelmente a inspiração original da denominação são os cílios que exercem função análoga para nossos olhos.
As matas ciliares criam um ecossistema específico ao redor dos cursos de água superficial, criando um habitat para as espécies faunísticas que tem em comum com as espécies florísticas necessitar de uma fonte permanente e regular de recursos hídricos.
As matas ciliares atuam no sentido de estabilizar as encostas, com suas raízes tendo a função de pequenos e naturais estaqueamentos que evitam a instabilização dos taludes verticais ou inclinados formados nos limites das caixas de drenagem dos cursos de água.
A vegetação mantém a temperatura diferenciada na faixa de cobertura da mata ciliar favorecendo seu próprio desenvolvimento e da fauna própria regional associada e contribui muito para a estabilização das encostas tanto naturais quanto induzidas pela ação antrópica. A ausência de vegetação é um fator extremamente relevante para a ocorrência de deslizamentos em encostas como observados em regiões geográficas do estado do Rio de Janeiro.
A destruição sistemática das matas ciliares decorre das atividades agropastoris e da pouca compreensão que se tem da importância da função que estas estruturas de flora exercem. A pecuária impede a regeneração natural das áreas de mata ciliar degradadas, enquanto a agricultura é patrocinadora de programas de drenagem de áreas de várzea onde frequentemente as matas ciliares ocorrem, e com a drenagem tende a ocorrer a falta de água no solo e a destruição das matas ciliares e seus ecossistemas associados.
As matas ciliares também são destruídas nas encostas nas regiões em que protegem cursos de água sem estarem inseridas em bacias hidrográficas com a ocorrência de várzeas.
As matas ciliares constituem corredores naturais que permitem tanto para a própria flora, quanto para a fauna associada no ecossitema local, que as espécies possam ganhar mobilidade, se reproduzir e garantir a biodiversidade específica de cada região que exerce uma função intangível no equilíbrio homeostático do conjunto holístico.
Isto justifica a enorme discussão para que os legisladores não permitam que a recuperação destas matas ciliares seja executada também com espécies exóticas, pois apenas em função de atrativos financeiros buscando reduzir custos de recuperação, se coloca em risco todo um conjunto de características próprias e locais dos ecossistemas.
Estas peculiaridades garantem a riqueza e o desenvolvimento pleno do potencial da biodiversidade local, que é o patrimônio maior e intangível do meio natural do qual fazemos parte e que deve ser preservado a qualquer custo para que as condições de qualidade ambiental sejam mantidas.
Muitas vezes estão ocorrendo definições de modelos de recuperação de matas ciliares e até mesmo de outros tipos de áreas degradadas sem considerar a importância extrema das características geológicas e geomórficas dos locais e de sua flora e fauna decorrente associada.
É necessária a institucionalização da recuperação das matas ciliares, aliada à práticas de conservação e manejo adequado dos terrenos, capazes de integrar políticas agrícolas, de recursos hídricos, florestais e ambientais, num só sistema, integrado, eficiente, eficaz e permanentemente monitorado por fatores variáveis que sejam relevantes, e adequados sob o prisma financeiro e operacional também.
Só assim podem ser reconstituídos os ecossistemas locais e a biodiversidade pode ser mantida e ampliada em todo seu potencial. E todo o conjunto potencialize a satisfação mínima de recursos naturais que as futuras gerações irão demandar para manutenção de sua qualidade de vida.
Dr. Roberto Naime, Colunista do EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
EcoDebate, 06/06/2012
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