* Ecio Rodrigues
Durante
toda a década de 1990 e um pedaço da seguinte, o Acre gozou do status de bom
exemplo quando o assunto era o desmatamento na Amazônia. Ostentando taxas quase
sempre inferiores às demais localidades amazônicas, o estado se orgulhava de sua
reputação ambientalista.
Mas,
como costuma acontecer com tudo o que é frágil, com toda conjuntura que não
decorre de diretrizes inequívocas e políticas bem resolvidas, essa situação em
muito se alterou.
Sem
tentar estabelecer o ano, ou o momento histórico, como gostam os historiadores,
em que a ação estatal para contenção do desmatamento descarrilhou, o fato é que
as estatísticas de desmatamento no Acre assustam o governo federal e os
ambientalistas – que, aliás, sempre foram aliados de plantão.
Os
números atuais sobre a dinâmica do desmatamento na Amazônia apontam que dois
municípios do Acre figuram entre os dez que mais desmatam na região.
Foi
assim em 2014, e tudo indica que continuará assim em relação ao período que vai
de agosto de 2014 a julho de 2015, cujo diagnóstico o Inpe deve publicar nas
próximas semanas.
Por
sinal, existe a possibilidade de o relatório sobre o desmatamento trazer
números vexaminosos justamente no momento em que a comitiva de autoridades públicas
estaduais arruma as malas para ir a Paris prestigiar a COP 21.
Acontece
que, bem diferente do ambientalista de outrora, o Acre de agora deverá reconhecer
o esgotamento do discurso de sustentabilidade, que tanto ajudou a eleger seus políticos.
Tudo
indica que o propósito de estabelecer o diferencial de uma sociedade que
respeita o meio ambiente e valoriza a floresta se perdeu, diante da ausência de
investimentos estatais que transformassem em realidade o que era repetido nos
palanques eleitorais.
Ao
que parece, é preciso muito mais vontade e competência que discursos e
preleções para se alcançar uma saída que forneça trabalho e renda por meio da
criação de um Cluster Florestal – vale dizer, um sistema de produção baseado na
exploração da biodiversidade presente no ecossistema florestal, compreendendo um
aglomerado de empresas do setor primário, secundário e terciário e com escala
de produção pequena, média e grande.
Talvez
o fato mais emblemático dessa triste mudança de rumo, que reflete uma realidade
que desmascara a continuidade da pregação de que o Acre é sustentável, tenha
sido a extinção da Secretaria de Florestas.
Na
condição de espaço estatal para discussão e aperfeiçoamento de um setor que abrange
desde o seringueiro ao industrial da madeira, a lacuna deixada pela Secretaria
de Florestas não foi preenchida e não há perspectiva para a condução da
política estadual destinada à produção florestal.
Aos
extrativistas, que se encontravam em processo de mobilidade social para atingir
o patamar de manejadores florestais, resta a opção pela pecuária, setor para o
qual o apoio estatal nunca deixou e nunca deixará de chegar.
Aos
industriais da madeira – uma vez que o setor industrial, inclusive aquele
vinculado à construção civil, não representa, e não representará no médio prazo,
alternativa de investimento no Acre – resta ouvir o gerente do Basa, que há 30
anos vem repetindo: é melhor investir na pecuária.
Aos
gestores do Acre presentes na COP 21 resta pouca coisa a oferecer – e,
inevitavelmente, muito a explicar.
* Professor Associado da Universidade Federal do Acre,
Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Política
Florestal pela Universidade Federal do Paraná e Doutor em Desenvolvimento
Sustentável pela Universidade de Brasília.
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