domingo, 13 de dezembro de 2015

Licenciamento ambiental "a jato" avança no Congresso

Projeto que prevê prazo máximo de oito meses para a liberação de projetos foi aprovado em comissão do Congresso
BRASÍLIA
Uma mudança polêmica no rito do licenciamento ambiental de grandes obras de infraestrutura começou a dar passos concretos no Congresso Nacional. A Comissão Especial do Desenvolvimento Nacional aprovou na terça-feira, por sete votos a dois, o projeto de lei que institui o chamado "licenciamento ambiental especial".

O projeto, que tem sido chamado de "fast track" do licenciamento, prevê que as autorizações ambientais de grandes projetos de infraestrutura nas áreas de energia, logística e telecomunicações sejam aglutinadas em uma única licença. Hoje, esse processo passa por três etapas: a licença prévia, que atesta a viabilidade do projeto; a licença de instalação, que permite o início da obra; e a licença de operação, que confirma a execução de compromissos assumidos pelo empreendedor e, com base nisso, libera o uso comercial do projeto.

O projeto, de autoria do senador Romero Jucá (PMDB-RR), estabelece um prazo máximo de até oito meses para que o empreendimento esteja completamente liberado para ser construído e explorado. Jucá justificou que o licenciamento atual chega a demorar cinco anos para ser concluído.

Manifestação. Cada órgão ligado ao processo de licenciamento, como a Fundação Nacional do índio (Funai), o Instituto Chico Mendes(ICMBio) e o Ibama, passaria a ter um prazo específico de até 60 dias para se manifestar. Caso algum órgão não cumpra esse prazo, automaticamente fica entendido que ele aprova a obra.

Outra alteração diz respeito à consulta de populações que venham a ser atingidas pelos empreendimentos. A proposta não prevê a realização de audiências públicas antes de se decidir pela viabilidade da obra. Ao defender seu projeto de lei, Jucá disse que a mudança "não tira direito de nenhum órgão de dar seu parecer ou sua manifestação", mas apenas "propõe prazos para que isso aconteça".

A regra seria aplicada sobre os projetos considerados prioritários pelo governo federal, ou seja, as grandes obras que seriam listadas anualmente, por meio de uma portaria aprovada pela presidente Dilma.

O Ministério de Minas e Energia (MME) é um dos principais entusiastas da ideia. Em recente entrevista ao Estado, o ministro Eduardo Braga disse que o projeto tem condições de resolver a maior parte dos problemas do setor. "Estamos apoiando o senador Romero Jucá, esperamos que o "fast track" saia. Não dá mais, temos de unificar as licenças. Se o projeto de lei for aprovado no ano que vem, muda o ritmo da infraestrutura no Brasil", declarou.

Segundo Braga, o projeto conta com o apoio até da ministra do Meio AmbienteIzabella Teixeira. Questionado sobre o assunto, o Ministério do Meio Ambiente informou que, na realidade, chegou a apresentar um substitutivo ao projeto de lei de Romero Jucá e que esta nova proposta foi costurada com outros ministérios.

Para Mauricio Guetta, advogado do Instituto Socioambiental (ISA) e especialista no assunto, porém, o projeto rasga completamente alegislação ambiental do País, abre espaço para o aumento de judicialização de obras e fragiliza as medidas de prevenção e segurança, ampliando riscos para que novas tragédias ambientais como a das barragens em Mariana (MG) se repitam.

"Estamos diante do risco de um dos maiores retrocessos no processo de licenciamento ambiental da história", disse o advogado. /A. B.

• Visões distintas

"Se o projeto de lei for aprovado no ano que vem, muda o ritmo da infraestrutura no Brasil."

Eduardo Braga
MINISTRO DE MINAS E ENERGIA

"Há o risco de um dos maiores retrocessos no processo de licenciamento ambiental da história."

Maurício Guetta
ADVOGADO DO INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL (ISA)

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